FESTA DO CICLISMO

 🌼Naqueles anos 70 a chegada ou passagem dos ciclistas na Covilhã era festa garantida. Na véspera já andava ansioso pois sabia que ia com meu pai e amigos deste para as Penhas da Saúde ver o Agostinho & Companhia. 

 🚴Eis que chegava o grande dia, meu pai costumava levar três ou quatro amigos Sportinguistas que por sinal levavam os filhos e assim eu já podia brincar até que chegassem os reis do pedal. Quatro adultos e quatro crianças eram quantos íamos no Opel Record azul e branco e bem cedo para conseguirmos um bom lugar. No trajeto para as Penhas da Saúde a varanda dos Carqueijais era paragem obrigatória para dar de beber ao carro, naquela época os sistemas de arrefecimento eram menos eficientes, os materiais utilizados eram menos resistentes a altas temperaturas e os motores eram projetados de forma diferente, com menos atenção à gestão térmica. 

 🚴Depois de dar de beber ao carro e ao nosso corpo com aquela agua tão fresquinha da Serra da Estrela era hora de seguir caminho e já era uma fila imensa de automóveis quando o relógio de pulso (que me tinham oferecido no exame da quarta classe) ainda nem tinha os ponteiros nas dez horas, arranjar lugar para o carro nas Penhas da Saúde já era caótico mas meu pai lá o conseguiu enfiar num descampado para depois retirarmos da mala a toalha, as cadeirinhas de encosto, a comidinha e a bebida que se metia a refrescar na agua. Um aviso apenas dos nossos pais, "brinquem com vontade mas não atravessem a estrada", e assim cumpríamos religiosamente a ordem, afinal tínhamos tanta serra para brincar.

    Nos anos 70, Penhas da Saúde estava em transição. O Sanatório, que havia tratado tuberculosos por décadas, foi encerrado em 1969/1970. Em 1976, parte do edifício foi usada como abrigo para retornados. Ao mesmo tempo, a região continuava a ser um destino turístico, com o desenvolvimento hoteleiro e eventos como o Carnaval da Neve.

 🚴Todos os ouvidos estavam sintonizados nos rádios pois a Emissora Nacional transmitia a Volta a Portugal em Bicicleta e quando anunciaram que os ciclistas se aproximavam da Covilhã foi uma correria para as bermas da estrada cheiinhas de gente e mais um aviso dos pais "Se os carros de apoio enviarem algum brinde para a estrada são os pais que apanham para não haver o risco de serem atropelados", e mais uma vez cumprimos na integra. Meu pai conseguiu apanhar para mim um boné de pano da Gazcidla , uma revista das pastilhas elásticas Piratas e mais umas coisitas que já nem me lembra, o que me lembro mesmo foi de ver o meu ídolo Joaquim Agostinho isolado do primeiro grupo e uma multidão vibrava com o seu esforço e determinação, mas que poço de energia era este homem, depois vinham em grupos muito pequeninos , outros simplesmente sós e por fim o carro da vassoura a lembrar que trazia o último ciclista. Recordo alguns ciclistas além do saudoso Joaquim Agostinho que me ficaram na memória; Firmino Bernardino, Emiliano Dionísio e Leonel Miranda do Sporting, Fernando Mendes e Venceslau Fernandes do Benfica, Herculano de Oliveira do Sangalhos, José Martins da Coelima, Joaquim Leite, FCPorto, e Francisco Valada da Ambar. 

 🚴Terminada a passagem dos ciclistas aguardamos mais umas duas horas para que toda aquela multidão pudesse sair dali e só depois a muito custo o meu pai lá conseguir tirar o carro após fazer inúmeras manobras e lá viemos nós todos felizes de volta à cidade, felizes porque vimos os ciclistas e felizes porque o "nosso" Agostinho venceu a etapa. 

Bom dia para todos nós🍀




 

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