APRESENTAR ARMAS

12 de Setembro de 1983.
Acordei cedo, cedo demais para os meus gostos e lá em casa tudo acordou nessa hora, o filho e neto amado iria assentar "praça" em Castelo Branco. Nove anos e tal depois do 25 de Abril tinha a certeza que não ia para a guerra colonial mas mesmo assim tinha de aguentar dezasseis longos meses.
Despedi-me da minha mãe e avó que ficaram com uma lagrimazita no canto do olho e segui até casa do meu amigo Francisco Guimas, (ali para os lados da fonte das galinha), ele que já era militar desde Janeiro. Uma coisa que não esqueço é o Francisco colocar um disco do Simon & Garfunkel pois na opinião dele ia sentir-me mais bem disposto. Quando chegamos à estação dos caminhos de ferro da Covilhã já se encontravam dezenas de militares que esperavam o comboio com destino a vários pontos do país ( Castelo Branco, Abrantes, Santarém, Entroncamento, etc),dentro da carruagem era uma barulheira infernal até porque nós éramos os "macaricos" portanto alvo da praxe dos mais velhos.
No primeiro dia só tinha de entrar na parte da tarde no quartel, tive que passar o tempo às voltas em Castelo Branco e só depois de almoçar bem é que me apresentei. Ao passar a porta de armas encontrei um enorme quartel, um graduado chegou-se ao pé de mim e mandou-me para o local de entrega de fardas...lá tive direito a botas, farda º 2, farda nº 3 , boina, roupa interior, gravata...com direito a aviso: se danificar ou perder alguma peça tinha de a pagar no espólio...a seguir fomos para a caserna onde me estava reservada a cama de baixo, no armário coloquei o fardamento e algumas das coisas que levara da Covilhã e depois seguimos para a parada onde fomos informados que no dia seguinte íamos fazer uns testes médicos de rotina para começarmos a recruta.
A tarde passou-se a correr, da parada seguimos para a primeira refeição no Regimento de Infantaria de Castelo Branco, aquele jantar ainda hoje me ficou na rotina, nada tinha a ver com as refeições caseiras da minha mãe, era aí que começávamos a dar o valor às coisas., fui para a cama a saber que ao outro dia de manhã ia acordar com o toque de despertar bem cedinho...e foi assim o meu primeiro dia de serviço militar obrigatório.
Dois apontamentos passados estes anos. A tropa (ao contrário do que se diz) não fez de mim mais Homem.
2º: Nunca esqueço aquela manhã em que fazíamos preparação física com arma, chovia torrencialmente, iam a passar duas senhoras e diz uma para a outra com a voz embargada..." Anda uma Mãe a criar um filho com tanto carinho para isto"...esta ficou-me cá até hoje.
Foi assim em 1983...

Sem comentários:

Muito obrigado pela vossa visita

Voltem sempre...