O 25 DE ABRIL 48 ANOS DEPOIS

 Bom dia amigos e seguidores deste blogue.

 Quando se deu o 25 de Abril de 1974 eu tinha onze anos mas tenho muitas memórias desses onze anos que vivi em ditadura.

 Para uma criança é difícil a perceção do que se está a passar. 

 Vivi uma infância onde felizmente nunca me faltou comida em casa e tive as brincadeiras normais da época. A minha instrução primária foi na escola da D. Gabriela Seco, escola particular que ficava perto de minha casa e com turmas mistas ao contrário das públicas que separavam os meninos das meninas. Como em quase todas as salas de aulas na altura tínhamos o crucifixo na parede o que achava normalíssimo visto sermos um país católico. Na rua nunca me apercebi de movimentações que achasse viver numa ditadura, numa cidade de província como a Covilhã tudo se passava normalmente, os pais iam para o trabalho, as mães ficavam em casa e na maior parte dos casos com os avós. No meu caso o meu pai era proprietário de um café onde além dele trabalhava a minha avó e minha mãe e eu passava muito tempo entre a casa (morava por cima) e o café, onde entravam clientes habituais, muitos eram lojistas, outros malta jovem, muitos operários e todos se respeitavam mutuamente excetuando quando algum bebia um copo a mais.

Foi quando entrei para o ciclo preparatório que me apercebi de algo errado ao ficar numa turma só de rapazes, estranhei mas entranhei... 

 A única coisa que achei mais fora do normal foi quando o meu irmão mais velho teve de ir para Angola lutar pelo que diziam ser nosso. Em casa ficou tudo destroçado, sim porque infelizmente chegavam à cidade soldados mortos onde se fazia o funeral no cemitério da cidade com salva de tiros e esse barulho nunca me saiu da cabeça. Felizmente meu irmão veio são e salvo mas regressou devido ao 25 de Abril ter-se dado  uns meses antes. 

 Na véspera da revolução tive um dia normal, levantei, aulas, brincadeira no jardim e casa. Não tenho noção se de noite houve alguma movimentação em minha casa pois no tempo da ditadura existiam reuniões da oposição ao regime na cave do café, claro que só vim descobrir após o 25 de Abril. Na cidade as reuniões clandestinas eram na cave do café Danúbio e no café do João Leitão entre outros locais.

 Já no dia só me apercebi da revolução quando cheguei das aulas e tudo escutava as rádios atentamente, depois é o que se sabe a euforia, o fim da ditadura o viver em liberdade.

 Nunca vi tanta gente na rua como no primeiro de Maio de 1974, acho que nem nunca irei ver, um mar de gente a dar vivas à liberdade. 

 Hoje passados 48 anos (como o tempo passa!) Portugal e o mundo mudaram , umas coisas para melhor outras para pior, mas temos o poder de decidir em liberdade e se existe uma coisa que me fez sempre defender o 25 de Abril foi o fim da guerra do ultramar onde se lutava por algo que não fazia sentido como hoje não faz sentido a invasão dos Russos à Ucrânia. 

25 de Abril sempre!



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